sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

E o cachorro não latiu


Os jogadores de outros Estados que atuam em Minas ficam surpreendidos com as opções de tantos bares e restaurantes de Belo Horizonte. Alguns, como Sorin, encantados com o bairro de Lourdes e também o Mercado Central. Querem curtir Belô com fascínio. O que para muitos belorizontinos não tem este encanto. Quando os jogadores estão pressionados, devido aos maus resultados do time, também o desempenho individual, fazem opção por locais mais reservados. Nos Anos 70, o grupo comandado por Mariano, Ozires, Darci Menezes, Raul, Moraes, Natal, Elivélto, Cincunegui (os jogadores do Atlético e do América também participam das farras) e outros aproveitaram ao máximo tudo que estava à disposição. Da cidade, Joãozinho era o anfitrião preferido. E que anfitrião. Acompanhar o seu ritmo era para poucos.

Erivélto Martins, nome de sucesso de um cantor brasileiro dos Anos 60 e 70, dado ao jogador celeste por sua mãe, fã do cantor, atuou por quatro anos no Cruzeiro. Ele lembra que naquela noite em que saiu com a turma de cruzeirenses, horas antes de uma concentração e véspera de clássico, em 1978, eles começaram a via sacra pelo bairro Santo Antônio. Alguém então sugeriu que o melhor seria um bar próximo ao Mercado Central, local mais  tranquilo e simples, onde poderiam terminar a noite. Já sabiam que durante a noite, no local, já era enfestado por ratos. Melhor, ratazanas. Tal o tamanho das feras.  A maioria dos jogadores, em três carros, já estava um pouco alterada pelo álcool, quando foi visto algo grande, passando rápido pelo calçada. Um gritou: “É um cachorro. Vamos levar para a Toca. Quando a torcida celeste começar a gritar, chamando a do Atlético de cachorrada, nós vamos soltá-lo no gramado”.

Joãozinho desceu, correu e pegou o que para eles era um cachorro. Foi uma farra. O ex-jogador, que foi um dos mais puros do Futebol, não trocava seus tempos livres por uma boa cervejada. E tinha de ter cerveja no estoque. Olha, disse ele, depois de segurar o que seria um cachorro no colo: “É lindo”. Outro falou: “Vamos coloca-lo o nome de Dario”. Este hoje comentarista esportivo do SBT.  Na época, era o principal goleador do Atlético e fazia sucesso com suas frases. Devido aos excessos com a bebida, ninguém havia constatado que era um rato. Se já havia percebido o engano, a opção foi pelo silêncio e para que a zorra continuasse. Muito típico quando uma turma se reúne para uma descontração. Para os jogadores, muito mais. Pode ser até que fazem questão destes momentos para quebrar um pouco a tensão vivida na véspera dos grandes jogos ou da própria atividade exercida. São obrigados a dar respostas positivas todas às vezes em que estão em campo, devido a paixão dos torcedores e as exigências dos clubes. É proibido ser um perdedor. Antes diziam que eram obrigados a matar um leão do dia. Agora, esta afirmação não está mais tanto na moda.Mas a prática não mudou.

Voltando a madrugada, Erivélto diz que Joãozinho questionou: “Mas ele não late.  E era preciso ele para fazer o coro com a nossa torcida”. Depois de uns cinco minutos de muita diversão, Joãozinho não aguentou: “Mas é um rato” . E a festa acabou. Não a noite, porque eles foram para o último bar da rua Guarani e, em seguida, já depois das três da manhã foram para a Toca para o início do regime de concentração. Lembram que no domingo, o Cruzeiro venceu o Atlético por 2 a 0, pelo Campeonato Mineiro.





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