sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ele parava no ar

Dario, ex-jogador do Galo e hoje comentarista da TV Alterosa (SBT)

No final da década de 70, Elias Kalil era o presidente do Atlético. Não tão audacioso em seus atos como o filho Alexandre, mas com certeza, se naquela época já existissem as ferramentas das redes sociais, ele usaria o twitter para anunciar as principais contrações. Ele optava em buscar, especialmente em São Paulo, aqueles jogadores em destaque e com a presença da imprensa, convocada pela assessoria de imprensa do clube, os novos ídolos desciam no aeroporto da Pampulha nos braços da torcida. Foi assim com Palhinha, Chicão, Dario, nas duas primeiras voltas, depois de ter sido um dos heróis da campanha do título de campeão Nacional de 1971. O dirigente fazia questão de fazer belas recepções até para a chegada dos técnicos. Jamais pensou pequeno.

As entrevistas do presidente, tal como as do filho, eram bombásticas, porque ele falava o que a torcida gostava de ouvir. Da possibilidade do Atlético voltar a ganhar o título nacional, não admitia a perda das disputas estaduais e ainda, não tinha receio para criticar os árbitros que prejudicaram o time. As vezes, mesmo não sendo o setorista do Atlético (é aquele repórter que acompanha diariamente as atividades do clube) eu era escalado para ouví-lo. Numa delas, estava acompanhado de um de meus irmãos e fomos ao escritório da Erkal, de sua propriedade, na Praça da Liberdade. Na época, Dom Serafim, arcebispo de Belo Horizonte, também mandava os seus recados ao Clube Alvinegro.  Lembro que Elias falou dele naquela manhã, mas o objetivo principal do dia era que o presidente confirmasse os reforços para a temporada de 1978. O técnico era Barbatana.

O Atlético precisava de centro-avante (não sei se era para substituir o Reinaldo que tinha feito cirurgia e também ficava muito à disposição da Seleção Brasileira).  Falava sobre os reforços e atrás dele um adolecente de no máximo 16 anos, com ouvidos atentos não teve receio para dizer ao pai o que ele deveria fazer: “Dario pai, Dario pai”.  Dias depois o atacante foi contratado. Voltava pela terceira vez. Em 1972 foi para o Flamengo e dois anos depois retornou. Não ficou nem uma temporada e foi para o Sport. Naquele momento, o Atlético foi buscá-lo na Ponte Preta. Ainda houve uma quarta vez, em 1983.

O atacante não tinha mais o vigor físico e performance do início da década de 70. Digamos que já estava jogando com o nome, mas as suas frases de efeito, decantadas até por Carlos Drumond de Andrade ganhavam o mundo da bola. Algumas delas: “Não venha com a problemática que eu dou a solucionática”,  “Me diz o nome de três coisas que param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha”,  “Isso é mamão com açúcar”, “Não existe gol feio. Feio é não fazer gol.”. Pela sua irreverência e capacidade de expressão, um tipo muito diferente dos demais boleiros, estava presente em redes nacionais e aparecia até no Jornal Nacional da Rede Globo.

O Campeonato Mineiro prosseguia e Dario não deslanchava. A torcida começou a pegar no seu pé e pressionar o técnico Barbatana, que incomodado o substituía   no segundo tempo. O Atlético foi para a final, contra o América precisando do empate para ser o campeão. Dario não conseguia dominar uma bola sequer. Fez um acordo com o treinador que não seria substituído na decisão.  Aos 42 minutos do segundo tempo, o Atlético perdia de 1 a 0.  Então ele foi lançado na esquerda em diagonal, apontou e jogou a bola em direção a área. Misael, zagueiro do América, saiu em disparada para acompanhá-lo. O goleiro saiu do gol e Dario já sem pernas tropeçou e caiu em cima da bola. Com o impacto, a bola acabou tomando um sobresalto, cobriu o goleiro e entrou de mansinho nas redes para delírio da massa atleticana.  Final de jogo, Galo campeão e todos correram para ouvir Dadá. O repórter lhe questionou: “Dario, foi gol de sorte pois você tropeçou na bola?”  A resposta veio na medida certa: “Craque não tropeça, a estrela brilha e a bola entra”.

Time campeão mineiro em 1978: João Leite; Alves, Vantuir, Márcio Paulada e Valdemir; Toninho Cerezo, Ângelo e Paulo Isidoro;  Marinho,  Reinaldo (Dario) e Ziza. 







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