sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O sombra ataca


Durante dez anos, o Cruzeiro conviveu com a imagem do sombra, um jogador que começou na categoria de base e depois como profissional ganhou vários títulos mineiros, Taça Brasil 
(instituído agora como Campeonato Brasileiro de 1966) e Copa Libertadores. Na concentração, nos hotéis, vestiários e até dentro dos aviões, alguém gritava,  quando desaparecia algo: “Sumiu”.  Os olhares imediatamente indicavam o sombra.  Seus companheiros entendiam como uma doença e o respeitavam. Tanto que ele era um dos mais queridos. Em respeito a sua memória, não vou citar seu nome, apenas as iniciais: PP.

O goleiro Raul é o que mais gosta de lembrar das histórias do sombra, sempre ricas em detalhes. Uma ocorrida num voo internacional, em 1971, quando o Cruzeiro voltava de mais uma excursão vitoriosa (Tostão fazia parte do grupo). PP recolhia talheres, cobertores, tudo que estava à disposição e colocava em sua bolsa, que normalmente estava nas mãos ou próxima – ele nunca despachava suas malas – decidiu que naquela viagem ele levaria para casa o salva vidas e o tubo com o material inflamável. Só que na hora de tirar o salva vidas, que fica abaixo do assento, o tubo soltou e o gás (aquele pó branco) chamou a atenção de todos.  Também pelo som. Incontinente, PP tentou colocar tudo dentro da pequena bolsa.  Ela foi enchendo e de repente todos ouviram um estouro. A bolsa não aguentou e arrebentou. A gozação foi geral.  Não para o sombra.  Ele explicou que ouviu o barulho e tentou resolver o problema colocando o material dentro de sua bolsa. Os companheiros aproveitaram e recomendaram a aeromoça que lhe pedisse desculpa pelo incidente. Ela atendeu para alegria da  galera.

A melhor de todas do sombra aconteceu também  durante uma viagem. Quando os jogadores deixaram o hotel – já estavam no ônibus esperando autorização para a saída com destino ao aeroporto -  o gerente do hotel chamou o responsável pela delegação e disse que a cortina de um dos quartos havia desaparecido. O dirigente perguntou de qual quarto. Todos olharam em direção ao sombra, porque sabiam se tratar de mais uma de suas obras. Mas ele tinha a resposta na ponta da língua: “Não olhem para mim. Não sei de nada. Não foi no meu quarto”. Para evitar maiores problemas, o representante celeste pagou o custo da cortina, com uma cor meio alarmante para o padrão brasileiro e o Cruzeiro pôde seguir para o aeroporto.

Alguns dias depois, em uma das próximas viagens do Cruzeiro, no Aeroporto da Pampulha, o PP aparece de terno, feito com o pano da cortina. Raul não aguentou:  “Acho que eu lembro desta cor. Não é da cortina?”. Não houve nada melhor. Foi uma farra, mas o sombra tinha a resposta na ponta da língua: “Gente, este pano é diferente. Eu queria fazer algo para chamar à atenção. Custou caro viu”.





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