terça-feira, 22 de abril de 2014

Que saudade Senna



Assisti ontem ao programa Roda Viva, da TV Brasil, exibido em Minas Gerais pela Rede Minas, gravado em dezembro de 1986, com o tricampeão mundial de Automobilismo,  o mito Ayrton Senna. Naquela época uma geração respirava Fórmula-1 e eu nas coberturas ainda mais, acompanhando o circo pelos fantásticos circuitos do mundo. Voltar ao tempo é sempre bom. Rever alguns companheiros daquela época, também sonhadores, cada um buscando seus objetivos, melhor ainda. Impossível imaginar que oito anos depois daquela entrevista Ayrton Senna iria nos deixar na curva de Tamburello, no GP de Imola, no dia 1º de maio de 1994. Impressionou-me muito o que ele falou: a rivalidade nas pistas, sua formação familiar bem diferente de outros pilotos, o desejo de estar sempre no Brasil, mesmo morando na Europa (Londres, mas  por um período em Mônaco), o respeito a três homens pelo que fizeram nas pistas, Alain Prost, Nelson Piquet e Niki Lauda, pela ordem: “Estou no vácuo deles. Mas estes são os melhores que vi”.

Não tinha como deixar de ficar ligado a tudo que falou, especialmente do amor pelo Automobilismo, desde os 10 anos de idade, quando o motorista de sua família o buscava ao meio dia no colégio e dali seguia direto para as pistas (Interlagos), onde pilotava o seu kart até o anoitecer.  Depois destacou todo o processo de aprendizagem para ser o melhor, especialmente a habilidade para pilotar na chuva. Naturalmente esta capacidade passou a ser  uma cobrança, porque todos sabiam que na pista molhada o primeiro lugar tinha de ser ele . Se sentia na obrigação de corresponder plenamente – era um perfeccionista - e lembrou das mortes num esporte de riscos.

Em vários momentos da entrevista, Senna destacou com consciência dos perigos da pista e como se preparava para aquele desafio: “Você tem de se preparar. Conhecer os riscos, saber o limite para arriscar. A auto confiança vai lhe preparando, mas não podemos esquecer de que há o limite e, ainda, que há uma cultura da humanidade que deseja ver no esporte  a desgraça e as emoções.”. Em resumo foi o que falou sobre o perigo e fechou assim, diante da insistência dos entrevistadores em saber quanto ganhava: “Faço tudo por prazer. Jamais por dinheiro”.  

Os anos passaram e a Fórmula-1 mudou. Mas muita coisa do que ele afirmou permanece, como o poder das equipes que dominam o circo e oferecem os mesmos equipamentos aos dois pilotos. Na época, McLaren, Ferrari e Willians eram as responsáveis pelo show. A Lotus, apenas uma ameaça. As demais, coadjuvantes. Hoje, apesar de todas as mudanças, a garantia de que teríamos a volta do espetáculo com muitas emoções (no GP do Bahrein foram 86 ultrapassagens), impossível de se apontar um franco favorito. Os resultados já mostram outra realidade depois de quatro GPs: o domínio dos poderosos. A Mercedes segue absoluta com os passeios de Lewis Hamilton.  Assim ele vai ganhar todas. É outro obcecado pelas vitórias, como foi Ayrton Senna. Mas o nosso Senna muito mais arrojado. De outro planeta.

Nossas manhãs, aos domingos, não foram mais as mesmas. A geração de hoje não pode entender o que era esperar as corridas e ver Senna em ação.  Enchia de orgulho toda a nossa gente. Até mesmo os piquetistas, mesmo com a divisão das torcidas para os dois pilotos.  Ele veio de outro mundo para fazer com que todos nós sentíssemos  grandes, mesmo sem pilotar. Até para aqueles cujos valores da vida estão bem distantes do cheiro de gasolina.





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