sexta-feira, 1 de maio de 2015

Adílson dá as ordens e o jogador não entende nada


Em 2009, o Cruzeiro estava em alta. Tanto que chegou à finalíssima da Copa Libertadores e, depois, a classificação para a competição continental em 2010 . No ano anterior, marcou a campanha com goleada em cima do Atlético e com belas atuações. O técnico Adílson Batista estava com tudo. Aproveitava o Campeonato Mineiro para fazer as experiências. Tinha muito respaldo. Mas confidenciava que havia jogadores no “mundo da lua”. Fazia questão de exaltar dois como bons exemplos de visão de jogo: Jonathan e Ramires. Nas conversas reservadas dizia que ambos faziam uma leitura perfeita dos jogos em condições até de ajudar os companheiros, aproveitando espaços e, consequentemente, o técnico no esquema tático na organização da equipe dentro de campo. No mundo da lua ele observou dois, que vou omitir os nomes, porque ainda estão em atividade. Sobre um deles, dizia: “Era só um avião passar próximo a Toca da Raposa para ele esquecer que estava em treinamento e se ligar na descida do aparelho em direção ao aeroporto da Pampulha”. Lá é uma das rotas para a aterrissagem.

Já o outro jogador, em uma segunda-feira, com o início da preparação para os jogos de domingo, ele o chamou e disse que estava nos seus planos que ele começasse como titular. O jogo seria contra o América. Fez todas as recomendações possíveis, já em cima das características do adversário. Foram dois coletivos e constatou que, a exemplo de outros momentos, seu escolhido estava perdido. Mas insistia nas orientações. Queria evitar que no domingo o time não encaixasse como ele pretendia e naturalmente receberia as críticas de burro por parte do torcedor e de professor Pardal da mídia. E dos adversários, dentro do próprio Clube, de que é o técnico de apenas um esquema.

No sábado, como um ex-boleiro e zagueiro vencedor, que ficou mais de 15 anos correndo atrás da bola, depois da preparação chamou o jogador e perguntou-lhe: “Tudo certo, preparado para começar amanhã?” Para Adílson, esta aproximação é importante para dar maior confiança. Não é só escalar. Tem de falar, falar e o jogador estar firme. Seu escolhido respondeu positivamente. O que era de se esperar, já que estava convicto de sua capacidade, muitas vezes pouco importando com as recomendações táticas, com o argumento de que a bola vai chegar e ele revolver a seu modo, como já havia acontecido em outras situações. Mas Adílson insistiu e questionou. Quero que você me explique como será seu posicionamento. O jogador então disse: “Vou cair pelas pontas, aproveitar principalmente o lado esquerdo deles e ficar em condições de definir muitas jogadas”. Como não era nada do que o técnico havia orientado, a sua resposta foi apenas baixar a cabeça e responder: “Acho que você ficará como opção para amanhã”. Dois meses depois, aquela esperança já não estava mais na Toca. O Cruzeiro conseguiu uma negociação que lhe ajudou muito, porque trouxe na época um dos zagueiros mais importantes de sua história recente.



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