sábado, 25 de abril de 2015

Joãozinho chega bêbado a Toca e dá a ordem: “Eu vou jogar”


Joãozinho, o bailarino, que vive nos Estados Unidos, com 61 anos de idade, foi um dos maiores ídolos da história do Cruzeiro. Também está na lista dos grandes pontas de todos os tempos, ao lado de Éder, Zagallo, Rivelino (sua posição de origem era a ponta esquerda), Pepe, Edu, Júlio César (Flamengo) e outros. Não perdia nada para ninguém quando a bola estava em seus pés. Um artista. Dois fatos marcantes em sua carreira: o espetáculo de março de 1976, Cruzeiro 5 x 4 Internacional, no Mineirão, pela Copa Libertadores. Para muitos, o maior show da bola produzido no estádio. E, ainda, o gol que marcou cobrando falta, na vitória por 3 a 2  sobre o River Plate, em 1976, no Estádio Nacional, em Santiago do Chile, que deu ao Cruzeiro o primeiro título da Copa Libertadores. Nelinho era o determinado pelo técnico Zezé Moreira para fazer a cobrança, mas Joãozinho esperto e irreverente, confiando em sua maestria, bateu a falta a meia altura e o goleiro Landaburu até hoje está esperando a bola. Quando entrou no vestiário, enquanto todos comemoram a vitória, Joãozinho levou a tradicional bronca do severo e disciplinador Zezé: “Seu moleque. Quem mandou você cobrar aquela falta”.


O bailarino jogou 482 jogos pelo Cruzeiro e fez 116 gols. De 1973 a 1987 foi profissional do Futebol. É o oitavo jogador que mais vestiu a camisa celeste. O número 1 é Zé Carlos, com 633 atuações. Se dentro de campo foi considerado um gênio, fora era difícil mostrar àquele menino que o mundo é guiado por regras e para o profissional do Futebol ainda maiores. Ele não poderia desperdiçar aquele raro talento com as noitadas em Belo Horizonte e por onde passava. Nasceu no bairro Concórdia, em Belo Horizonte, e foi levado para o Cruzeiro pelo pai, que era motorista de Carmine Furletti, outro com uma história de meio século no Barro Preto. Muito rápido chegou a categoria profissional, com idade ainda para os juvenis, já que na época não havia a categoria de juniores.


Joãozinho poderia ter jogado até um pouco mais. Em 1981, ele sofreu uma falta violenta do lateral Darci Munique, do Sampaio Corrêa, fratura exposta tíbia e perônio (na época não existia as lesões de ligamento cruzado anterior do joelho, apenas dos meniscos) e nunca mais foi o mesmo. Seus amigos nos tempos do Cruzeiro contam que ele chegou várias vezes embriagado para os treinos e concentrações. Os companheiros lhe davam cobertura porque sabiam que no domingo ele iria fazer a diferença. Mas um dia o técnico Ilton Chaves, cansado de tanta irresponsabilidade, preocupado com uma possível falta de comando e, ainda, que a atitude do jogador contaminasse o grupo, decidiu puní-lo de uma forma dura. Não foi relacionado para um determinado jogo. O bailarino ficou abalado. Chorou quando não viu seu nome na relação dos concentrados e decidiu sair para a madrugada. No outro dia, se apresentou cedo, para o treinamento final e início da concentração. Os não relacionados são liberados. Insistiu para ser perdoado, mas como era reincidente, teve de ir para casa. Na madrugada de sábado para domingo, quando o dia estava amanhecendo, ele apareceu na antiga Toca, concentração celeste, embriagado. Os jogadores disseram para ele ir embora porque se o Ilton o visse a punição seria maior. Praticamente inconsciente, Joãozinho permaneceu. Minutos depois caminhou na direção do técnico e foi firme: “O Senhor não quer, mas eu vou jogar. Tô pronto”. E quase caiu dominado pelo álcool. Os seguranças tiraram o jogador da Toca na maior lição que tenha recebido. Só que seu filho, que também foi jogador celeste, com o nome do pai, seguiu a mesma trilha e não brilhou. Tinha talento, mas nunca na plenitude de João Soares de Almeida Filho. Este sim, um gênio. Os amantes da bola agradecem. Outro dia, Evaristo Macedo, que foi uma lenda, sentenciou: “Joãozinho foi um dos maiores que vi”.   

8 comentários:

  1. MELANE queria saber do seu comentário do grande zagueiro perfumo o marechal, vc acha que foi o maior zagueiro da história do cruzeiro, não vê jogar mais ve vídeos pra mim foi craque o melhor zagueiro que atuou em minas. Henrique

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  2. Henrique
    Foi o maior. Era técnico e inteligente. Os jogadores argentinos sabem usar bem o espaço. Indiscutível: o numero 1. Depois vem Procópio, Brito, Fontana, dava muitas cacetadas; etc.

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  3. Na época dos pontas era Joaozinho na esquerda e Roberto Bstata na direita. Uma Libertadores passaram pelos pés destes craques

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  4. É simples o futebol. Quando há jogadores capacitados, os resultados vem naturalmente. O Cruzeiro de 1976 foi o melhor exemplo. Ainda tinha Jairzinho, Palhinha e outros. Um grande time

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  5. Boa noite Melane,outo dia o palmeiras fez um jogo de despedida pro Alex talento azul,ouve enorme repercussão na mídia,vc acha que aqui Minas agente não valoriza nossos ídolos? Pois o cara foi muito mais ídolo aqui ,do que em SP!!! e alem de tudo agente perde um ótima oportunidade de divulgar os clubes mineiros!!! principalmente no cruzeiro que é meu clube!!!

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  6. Anônimo. Realmente não preservamos nossos ídolos. É uma cultura brasileira. Agora,com relação ao Alex, ele foi ídolo no Palmeiras. Nem é bom eu citar, mas vou lhe dar um dado: ele ama o Palmeiras. Muito mais do que o Cruzeiro. Saiu daqui magoado. Pelo que fez em 2003 realmente teríamos de fazer uma bela festa para ele. Seria ótimo para o Cruzeiro e para nós mineiros, mas o futebol tem um outro lado: os espinhos e principalmente as vaidades e quem perde é a bola.Grato, Melane

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  7. Se fosse ter despedida mesmo acho que deveria ter do Dirceu Lopes, esse sim o maior jogador da história do maior de minas. Henrique

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  8. Otimo ler seu Blog, são tantos casos interessantes e divertidos, e, narrados com tamanha maestria !!!!! Só você !

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