sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

71, o rei da criação e irreverência


Outro dia encontrei com Jair Bala, um dos maiores craques que vi em ação e merecidamente o melhor de todos os tempos do América-MG. Conversamos muito sobre as histórias do Futebol. Uma delas tenho de repassar para vocês. Aconteceu em 1972, no Paysandu, de Belém do Pará, onde ele encerrou a carreira. O técnico era João Avelino, o irreverente 71. O apelido diz tudo. Fazia questão de formar uma roda para contar uma das suas. Hoje tenho certeza de que o técnico sabia muito pouco de bola ou nada. Conseguia impor graças ao seu estilo gozador. Sabia usar as palavras, sem ofender. Tanto que era muito admirado pelos jogadores e conseguia unir o grupo em cima de seus objetivos. Jair lembra que o jogo do Paysandu era contra o Tuna Luso, terceiro time do Pará (o outro considerado grande é o Remo) pelo Campeonato Estadual e o seu time perdeu o primeiro tempo por 1 a 0. 71 ficou possesso. No intervalo abriu seu pedestal de conhecimentos, pouca coisa relativa ao que havia acontecido na primeira etapa, mas o objetivo foi alcançado. O Paysandu virou. Enquanto ele foi do Papão da Curuzu, ninguém mais esqueceu do que falou com Paulão, um negro de quase dois metros de altura e que se impunha pelo estilo forte de jogar. Era respeitado em qualquer terrreiro.

Como o time não jogou nada na primeira etapa, 71 esperou alguns instantes e começou a falar no vestiário. “Você (Jair não lembra o nome do goleiro) não está jogando nada. Parece uma borboleta. É muita delicadeza para bater na bola. Este não é comportamento de goleiro. Tem de sair, socar, tirar a bola da área, longe para não permitir o rebote”. Criticou os zagueiros, que estavam perdidos: “Vocês ainda não entraram em campo. Estão viajando para onde?”. Seguiu na mesma linha para os laterais. Chegou a Jair Bala e não se conteve: “Olha, de Bala você não tem nada. Parece uma bala docinha para chutar. Mostre que é jogador seu Jair. É ou não uma bala calibre 38. Está enganando para quem foi comparado com Pelé; Assim não dá”. 

Ivair, que foi craque na Portuguesa, a Lusa, e um dos jogadores que participaram do fracasso da Seleção Brasileira em 1966, na Inglaterra, era chamado de Príncipe, com justiça, porque tinha um estilo diferenciado para jogar. Também passava por lá, vivendo seus últimos instantes no Futebol. 71 não se conteve: “Ivair, você não tem nada de príncipe. Príncipe negro que eu conheço vive na África. Vai jogar Futebol meu caro. Não me engana mais”. O melhor reservou para o volante Paulão. O jogador estava sentado, atento as palavras do mestre da irreverência, quando ouviu: “Paulão, pode ir tomar banho”. "Mas, professor, eu já tomei. Quando voltamos de campo fui direto para o chuveiro". 71 insistiu. E Paulão não gostou: “Quem vai tomar banho é o senhor. Tô voltando para o campo”. E caminhou em direção do técnico. 71 saiu a contendo: “É que você está muito suado e precisa refrescar. Tô precisando muito de você na segunda etapa. Precisa estar mais leve”.






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