sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A jogada de mestre de Telê Santana


Em 1982, mais de 100 mil pessoas foram ao Maracanã para a despedida da Seleção Brasileira contra a Alemanha, que tinha um time poderoso, ambos rumo ao Mundial da Espanha. Foi um espetáculo. Algo para encher os olhos e termos a certeza de que o papel na Copa do Mundo seria cumprido da melhor forma, talvez até com o título, que não ganhávamos desde o tri de 1970, no México. A pressão era forte. O Brasil ganhou por 1 a 0, gol de Júnior. Convenceu. E vejam o que é a ironia do destino. Para muitos, naquele Mundial, foi o último grande momento mágico da bola e também da Seleção Brasileira, mesmo com a derrota. A partir daí, os especialistas, que chamo os mais exigentes do Futebol, apontam que as conquistas foram apenas alcançadas em função de detalhes. Nada de arte, jogadas espetaculares (exceções para os grandes momentos de Maradona), toque de bola primoroso e as Seleções jogando orquestradas por 11 músicos e o maestro.

As entrevistas não eram regulamentadas, feitas dentro de campo, sem privilégios e até dentro de vestiários. Os jogadores, às vezes tomando banho, conversavam com os jornalistas e os técnicos visitavam as cabines de rádio depois dos jogos. Claro que faziam opções para aquelas que tinham maior audiência, incluindo as televisões. Telê Santana era o técnico da Seleção Brasileira e depois da vitória sobre a Alemanha fez questão de cumprir o ritual. Afinal, era a despedida e ele tinha de mostrar em palavras para o País sua convicção de que os brasileiros poderiam acreditar na Seleção.Telê foi a cabine das rádios Bandeirantes, Jovem Pan, Globo, Nacional, Tupi, Guarani, Itatiaia, Gaúcha etc. Lá eu, Rogério Perez e Daniel Gomes o encontramos confiante. O encerramento foi nas cabines das televisões. Missão cumprida pegou o elevador de volta para os vestiários. Isso já quase umas duas horas depois do jogo. Entrou no elevador (para mais de dez pessoas) e foi para um dos cantos. Baixou a cabeça e deve ter feito sua viagem mental de que a partir daquele momento mais uma missão estava concluída e ele pronto para seguir a viagem dos sonhos dos brasileiros até a Espanha.

Como os radialistas já haviam terminado o trabalho, entraram no elevador Eraldo Leite, Rádio Globo, Kleber Leite (depois foi presidente do Flamengo), o ator e hoje deputado federal, Stepan Nercessian e muita gente mais. Talvez lá estivessem umas 15 pessoas. Stepan deu o grito: “Este Telê é um filho d....... Como vamos ganhar um Mundial com este time. Não joga nada e ele insiste com Cerezzo, Luizinho, Éder, Serginho, Paulo Isidoro, Valdir Peres. Chega de mineiros. Por que não Andrade (jogador do Flamengo)? Temos de tirar este filho d..... Do contrário vamos ser humilhados de novo”. Eraldo reforçou. Outros entraram no coro. A pressão foi enorme no elevador. Ficamos com a impressão de que Telê iria explodir. Mas continuou resignado em seu canto. Cabeça baixa, como se nada estivesse acontecendo, numa jogada de mestre. De quem sabe ouvir e responder na hora certa. Quatro anos depois, 1986, no comando do Flamengo, o encontrei semblante triste, andando de um lado para o outro, já dentro de campo para comandar um treino na Gávea (os jornalistas tinham acesso aos gramados antes das atividades) e ele mostrou a exata grandeza de um homem que soube cumprir a sua missão como comandante: “Nem sempre os melhores serão os vencedores”. Morreu com este sentimento: 1982 foi o seu momento na terra.   


Promoção

Nesta semana, encerrando as promoções de 2014, vamos sortear também uma camisa do Tombense, campeão brasileiro da Série D. Assim vamos premiar aqueles que acompanham o blog, com as camisas dos campeões de Minas em 2014, em disputas nacionais. Já foram vencedores Gilberto Vieira (Cruzeiro) e Aguinaldo Santos, morador de Praia Grande, em São Paulo (Atlético). 






4 comentários: