sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Abre Telê, eu vou tocar


Em agosto de 1974, o mundo da bola falava do carrossel holandês que havia tirado o Brasil nas quartas de final do Mundial e chegado a finalíssima diante da campeã Alemanha. O Atlético Mineiro se preparava para disputar mais um Campeonato Brasileiro. O time era comandado por Telê Santana, campeão como técnico pelo Galo, em 71 e com carreira gloriosa como jogador do Fluminense, onde era conhecido como o fio da esperança. Magrinho, esperto e com uma capacidade incrível para decidir, especialmente nos grandes jogos. Telê começava a se firmar como o técnico de ponta do Futebol brasileiro. Tanto que em 1982 já estava no comando do Brasil, no Mundial da Espanha. Aquela Seleção é considerada como o último grande time da história do País. Era alegria. Simplesmente encantou, mas não ganhou. O Galo tinha estrelas como Vantuir, Cerezo, Reinaldo iniciando carreira. Lavras comemorava mais um aniversário de fundação e convidou o Galo para o amistoso na cidade contra  o Fabril. O jogo foi à noite, mas no final da tarde o estádio local já estava completamente lotado.

Para preliminar foi convidado o time da AMCE (Associação Mineira de Cronistas Esportivos) para enfrentar uma seleção de veteranos da cidade. Os jornalistas trocavam de roupa no vestiário quando apareceu nada mais nada menos que Telê Santana pedindo para jogar o primeiro tempo. Instantaneamente, Orlando José, que organizou o time forneceu o uniforme para Telê com a camisa sete. O time da AMCE tinha Kafunga, Orlando José, Erasmo Angelo, Antônio Melane, Rogério Perez, Luiz Fernando Perez, Ronan Ramos de Oliveira, Gilberto Santana, Lúcio dos Santos entre outros. Para completar o grupo Orlando José convocou o motorista do ônibus que levou os jornalistas à Lavras. Muito comunicativo, Severino logo se ambientou e à vontade, contando piadas, acabou fazendo a recepção a Telê.

Começa o jogo, o time de veteranos de Lavras demonstrou entrosamento e superioridade, abrindo o placar antes dos cinco minutos. Telê jogava no meio campo e mostrava ainda grande habilidade quando acionado, com domínio de bola e passes precisos. Severino, o motorista era só velocista. Não tinha intimidade com a bola. O placar já mostrava 3 a 0 para o time da casa quando Severino pegou um rebote da defesa e, numa velocidade incrível, saiu desviando dos adversários até a entrada da área. Já sem fôlego, foi desarmado pelo zagueiro. Telê então se aproximou de Severino e muito educadamente orientou: “Severino, isto aqui é uma brincadeira, mas para que todos se divirtam é preciso que joguemos coletivamente, então vamos jogar no 1, 2. Assim será mais fácil e não nos cansaremos rápido”. Severino olhou para Telê com semblante questionador e comentou com um dos jornalistas: “Pô, o cara que dar uma de técnico aqui, é mole?”

Alguns minutos depois tiro de meta para a equipe da AMCE, Kafunga bate rasteiro e curto para Telê, que domina e, com espaço, conduz a bola. De repente, um grito (claro que do Severino) e se ouve do lado esquerdo: “Abre Telê, abre Telê”.  E passou a bola. Por ironia do destino, na Copa do Mundo de 1982, Telê teve de aguentar os reclamos do personagem Zé da Galera, de Jô Sores : “Bota ponta,Telê”.





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