sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O dia em que Yustrich chorou

Muitos técnicos passaram pelo Futebol usando o marketing com estilos paizão e durões, porque não tinham a exigência principal, o devido conhecimento da matéria. Emerson Leão, que sabe um pouco de bola, é o mestre de humilhar os jornalistas. Espera a presença de uma maioria, principalmente nas entrevistas e de repente, solta uma: “Meu amigo, você escreveu outro dia ou comentou na TV que eu tomei tal decisão. É melhor se informar. Não é este o fato” Sabe que tem a verdade e tenta intimidar e pressiona. Quando necessário agressivo. Suas entrevistas eram aguardadas com expectativa. Poderia ter algo novo. Fora dali, era uma pessoa extremamente educada, um gentleman, um apreciador das artes. Tem muitas obras em sua casa.
Mas o tema do dia é Dorival Knipel, o Yustrich, que trabalhou no Futebol de 1952 a 1982. Foi um técnico relativamente vencedor. Tinha experiência, por ter sido goleiro (começou no Flamengo) de 1935 a 1950.  Sabia como comandar um grupo e impor seu estilo. Arrogante e explosivo, fazia questão de exibir sua valentia, tanto que era chamado de Homão graças aos 1,90m de altura de mais de 100 quilos. Envolveu em vários atritos com jogadores, colegas, dirigentes e a imprensa.
Yustrich foi campeão mineiro em 1964, no comando do Siderúrgica, de Sabará, fazendo um trabalho revolucionário na época. Chegou ao  Clube, queimou todos os colchões do alojamento, mandou comprar camas novas, exigiu uma  faxina  diária, cozinheira e determinou: “A partir de hoje  alimentação liberada. Podem comer a vontade, principalmente bifes”.  Naquele tempo, as dificuldades eram enormes e os alojamentos com péssimas estruturas. Ganhou a admiração de todo o grupo – o problema foi treinar para eliminar o excesso de peso de alguns  devido a farta alimentação. O time voou no Campeonato Mineiro.
Na campanha do Siderurgica, em 64, o técnico obrigou um de seus jogadores, por nome Noventa, de jogar todo o segundo tempo, com o braço quebrado. Mas um dos fatos pitorescos aconteceu no Atlético, em 1968. Comandados por Tião, os jogadores abusavam das noitadas e chegavam carregados ao casarão do Galo, na avenida Coronel Oscar Paschoal, abaixo do Mineirão, a partir das 5h.  Yustrich então se preparou para recebê-los. Ele não dormia na concentração (missão do auxiliar Zezinho Miguel)  e se armou com pedaço de pau.  Era véspera de clássico. Passou a madrugada batendo muito. Vaguinho foi um dos últimos a chegar. Como foi avisado, por alguém que estava na janela do quarto da frente (na época não havia celular)  decidiu caminhar de quatro como um gato e miando.  Ao abrir a porta, imaginando que era um bichano e pedia para entrar, Yustrich não aguentou e sua reação não foi com violência. Chorou como uma criança.

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