No Futebol quando o jogador é presença constante no Departamento Médico, é abordado pelos companheiros da seguinte forma: “está no chinelo né”. Muitos porque realmente estão machucados. Outros para dar um “migué “. Ficar de fora de determinados jogos, viagens, treinamentos, concentrações etc. A imaginação é extensa para escapar. Em algumas situações, os Clubes – ler os médicos, dirigentes e membros da Comissão Técnica – fazem vistas grossas. Muitas das vezes pela importância do jogador no grupo, pela qualidade e que por algum motivo foge de um compromisso com a desculpa da contusão, mas conseguem respostas muito positivas imediatamente. Não adianta contar com o jogador quando seu interesse maior está muito longe da bola. Assim é a classe. O Futebol começou com estes males há mais de 100 anos e mesmo que chegue a um profissionalismo modelo para todas as atividades, não terá como deixar de aceitar a desculpa: “Doutor, estou com uma dor de cabeça. Não vai dar”. O médico é obrigado a respeitar. Até receitar medicamentos e se exigido expedir um atesto médico.
Em 1992, o São Paulo estava na onda. De volta à Copa Libertadores, reativou seu "Projeto Tóquio". O comandante era Telê Santana e estes eram alguns de seus jogadores: Zetti; Vítor, Catê, Válber, Gilmar, Ronaldo Luís, André; Pintado, Dinho, Cafu, Raí, Palhinha e Muller. Compromisso real com as vitórias e dos lideres com os mínimos detalhes do comportamento dos companheiros. O atacante Muller, que até recentemente era comentarista do Sportv, começou a reclamar de uma dor aqui, outra ali, sair fora de algumas viagens, jogos, treinamentos. Estava remando contra, como dizem. E, sem que soubesse, seus passos passaram a ser vigiados. Ele treinou numa sexta-feira normalmente e no sábado, véspera do jogo, foi para o Departamento Médico. Ninguém falou nada. Raí, Antônio Carlos e Pintado foram ao enfermeiro e perguntaram a ele qual o tratamento que Muller estava solicitando. O time jogou no domingo e na segunda-feira viajaria para a Bolívia, onde disputou dois jogos pela Copa Libertadores, contra o San José e o Bolivar. O atacante queria ficar de fora da viagem e conseguiu. Só que não sabia que o grupo tinha certeza de que ele não estava machucado e foi preparada uma boa surpresa, sem que Telê Santana soubesse.
Quando a delegação retornou da Bolívia, com uma vitória e um empate (3 a 0 e 1 a 1), jogos que o atacante fez falta, imediatamente os lideres foram ao massagista e perguntaram qual o tratamento que Muller havia feito. O massagista disse que na segunda feira, lhe fez a pergunta: “Hoje vamos cuidar de qual joelho, o esquerdo ou o direito?”. Muller caminhando olhou para cima e falou: “Amigo, nem eu sei”. E fechou assim o dialogo: “Pode ser em qualquer um. Pouco importa”. Este ritual se repetiu durante toda a semana, já que o São Paulo voltou ao Brasil apenas na sexta-feira. Muller ficou surpreso ao ouvir de seus companheiros, no centro do gramado, longe da imprensa, da Comissão Técnica, o que havia acontecido nas palavras de Rai. Ficou sem voz.Tentou arranjar uma desculpa aqui, outra ali. E nada. Como não colou nenhuma delas, ficou até de certa forma envergonhado com o que ouviu dos companheiros.
Os lideres disseram que não levariam o fato ao conhecimento da diretoria, muito menos do técnico. E que o assunto estaria morto a partir daquele momento, mas se ele não se enquadrasse ao compromisso de todo grupo, em 15 dias, seu contrato seria rescindido. O argumento seria forte: “Vamos dizer aos dirigentes que com você aqui estamos todos fora do São Paulo. Não o aceitamos mais”. Muller a partir daquele momento foi outro profissional. O número 1 nos treinamentos, jogos, nas palavras e o melhor testemunho como crente. Seu futebol subiu, o São Paulo foi bicampeão da Libertadores, Mundial de Clubes e ele deu show. Seu futebol subiu muito de cotação e chegou a Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos para ser o titular. A preferência do técnico Parreira foi para a dupla Romário-Bebeto. O disciplinador Telê jamais soube deste fato.
Promoção
Nenhum comentário:
Postar um comentário