sábado, 13 de junho de 2015

Luxemburgo e Leão, as divergências com até um Boletim de Ocorrência



Quem acompanha o futebol há muitos anos sabe que os técnicos Emerson Leão e Vanderlei Luxemburgo jamais se cruzaram para um bate papo como amigos, trocas de informações ou até mesmo uma visita cordial. Pelo contrário, as rugas são bem postas de ambos os lados. Como jogador, Leão esnoba. “Nunca jogou nada. Fotos dele na Seleção Brasileira foram com camisas que comprou na esquina”. Leão disputou três Copas do Mundo (1970, 74 e 78) foi goleiro do Palmeiras, Vasco, Grêmio, Corinthians e outros clubes. Luxemburgo lateral do Flamengo, Internacional e Botafogo, este por apenas nove jogos. E não nega: “Fazia a minha parte. Sem luxo”. Foi da Seleção, em 1973 e 74.
Depois de dirigir o Cruzeiro e conquistar a tríplice coroa em 2003, no começo de 2004, Luxemburgo teve um atrito com a diretoria e foi dispensado. O time estava disputando o Campeonato Mineiro e a Copa Libertadores. Seu assistente, Paulo César Gusmão ficou como técnico e conseguiu bons resultados. Tanto que foi campeão mineiro, mas foi demitido e, em maio, o Cruzeiro foi buscar Emerson Leão. Ele chegou com seu estilo autoritário, mas com amplos conhecimentos para desenvolver o trabalho na Toca da Raposa II. Surpreendeu quando pediu a um dos funcionários que trocasse o vazo sanitário e os azulejos do banheiro da sala da comissão técnica. “Tenho de mudar porque aquele cara usou este banheiro e banheiro é algo muito pessoal”. Foi atendido, apesar de a obra estar 100% intacta, com apenas dois anos de uso. A Toca II foi inaugurada em 2002.
                                  
Sempre que podia, Leão mandava uma resposta para Luxemburgo. Jogo de estrelas e muita vaidade. Foi assim ao longo de sua atividade. No momento, está curtindo suas artes, com pinturas. No Cruzeiro, em 2004, o auge das divergências e troca de gentilezas, aconteceu na portaria da Toca. Lá, normalmente, ficam as Marias Chuteiras e curiosos que admiram os jogadores e acham o máximo vê-los chegando com seus carrões. Também aquelas pessoas que não tem acesso ao centro de treinamento, mas se tornam próximas de seus ídolos. Duas delas eram muito conhecidas: o Cadeira, que revelava ter sido golpeado com um tiro e ficou paraplégico, já falecido e, a outra, o Buiu,  com carteira assinada tomando conta dos carros e ainda recepcionando as visitas até que elas tenham a autorização para entrar. Tem amizade com várias jogadores, que lhes dão boas gorjetas e roupas. Há 25 anos vive este mundo com prazer. Ele só tem um dos braços. O outro perdeu num acidente de ônibus.

Cadeira e Buiu também procuram agradar os técnicos. Na verdade o ritual à porta da Toca faz parte do ego das estrelas, porque os nomes são gritados, eles param para dar autógrafos e são tratados como majestades. Luxemburgo sempre que podia parava e dava boas gorjetas. Brincava e eles vibravam. As pessoas, principalmente as mais humildes, gostam de atenção. Quem tinha oportunidade de presenciar a cena, ficava encantado com a gratidão do técnico. Já Leão não gostou muito daquele cenário e procurava passar com os vidros do carro fechados e fazendo questão de não ouvir o que falavam: “Dê um troco aí Leão. Você ganha muito”. Mas um dia o técnico quebrou seu protocolo e deu uma parada para ouvir os pedidos. Tirou  R$5,00 e esticou a mão para dar ao Cadeira. Imediatamente recebeu como resposta, um muito obrigado, com o recado para guardar o dinheiro: “Não estou pedindo esmola. O Luxemburgo dava era 100 para nós”. Leão não gostou e a resposta veio forte:  “Mas ele pagava por seus serviços e eu jamais pedi algo a vocês”. A discussão prosseguiu, com ameaças e os funcionários da portaria foram obrigados a ligar para o 190 e solicitaram a presença da  policia. Houve até o Boletim de Ocorrência.
                       
 Buiu continua na porta da Toca recebendo Luxemburgo diariamente. Fala orgulhoso: “Ele é meu pai”.

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