sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Zé Roberto gastou quase todo seu salário numa corrida de táxi


O Cruzeiro já teve jogadores que não tinham um comportamento normal como jovens, mas em contra partida, dentro de campo davam as respostas mais positivas possíveis. Eram profissionais e cumpridores dos deveres como atletas, mas era só ter uma folguinha para que eles aprontassem. Precisavam ser vigiados 24 horas para não comprometerem a carreira.  O atacante Careca, que hoje trabalha na categoria de base, foi um deles. Um dia chegou a exigir um saco de dinheiro para que pudesse treinar e jogar. Exigência cumprida e ele colocou o dinheiro ao lado de sua cama por quase uma semana (fazia questão que todos vissem o que havia dentro do saco), até que o técnico Carlos Alberto Silva o convenceu de que ele teria de depositar o dinheiro em um banco. Ele atendeu o solicitado pelo comandante. Ronaldo Fenômeno também apresentava algumas anormalidades. De um a dez, ele passava na prova com uma nota superior a sete, porque era um menino de 16 anos deslumbrado pelas condições oferecidas pelo Clube, depois de uma infância com muitas dificuldades em São Cristovão, no Rio. Na Toca antiga passou a viver em um hotel de 5 estrelas, cercado  por todo o carinho, devido suas qualidades. Já tinha mania de comprar um par de tênis por semana. O baiano Alex Alves (falecido) também era um concorrente forte pelas roupas ousadas e por ser um tipo irreverente. Chegou várias vezes a Toca armado com um canivete e prometendo: “Hoje eu mato um”. Ninguém arriscava ficar por perto.

Na história recente, porém, o que mais chamou à atenção foi o atacante Zé Roberto, revelado pelo Mirassol e o Juventus, de São Paulo. Depois de ter sido um dos destaques da Copa São Paulo de 1998, ele foi contratado pelo Cruzeiro. Vieram também duas outras promessas do clube paulista: o zagueiro Luisão, ainda no Benfica, de Portugal e o armador Alê, que não vingou. Zé Roberto era inquieto. Nos primeiros jogos, entre os juniores, mostrou toda a capacidade. Impressionava os técnicos, dirigentes e os torcedores que tiveram o privilégio de vê-lo em ação jogando na base. Imediatamente foi alçado para os profissionais, pelo técnico Marco Aurélio. Em 2000 fez seus primeiros jogos entre os profissionais, mas por outro lado, já demonstrava ser um menino que teria de receber muita orientação, ser vigiado e morar na Toca. O Clube fazia questão de fixar como a residência o seu CT para as promessas, especialmente aqueles que demonstravam dificuldades de adaptação para que futuramente não se tornassem mais um problema. Sua conta de celular era altíssima para um atleta que recebia os primeiros meses de salários e consequentemente era um dos mais baixos. Mas nem por isso ele não deixava de telefonar várias vezes ao dia para sua casa (seus famílias moravam em Goiás) e todos ouviam  Zé Roberto, dizendo: “Mãe, coloca o cachorro aí (falava o nome) que eu quero ouvi-lo latindo”. E ficava sorrindo de prazer. Quando alguém lhe dizia que aquilo não era uma atitude normal, porque estava jogando dinheiro fora, ele arregalava os olhos e resmungava: “Não é não”. Minutos depois, repetia a cena.

O máximo de Zé Roberto foi a necessidade de mostrar para os companheiros que possuía recursos financeiros, não para competir com os que já tinham história no Futebol e com carrões para aquela época. Apenas status.  O supervisor Benecy Queiroz recorda que Zé Roberto era uma pessoa que  tinha de ser monitorada 24 horas. “Mas no fundo era um bom menino”. O seu máximo foi um sábado, depois de treinamento. Como não foi relacionado para o jogo, tomou banho e foi para o alojamento, composto por confortáveis apartamentos. Por volta de 15h pediu que um táxi o pegasse em frente ao portão principal da Toca. Minutos depois foi avisado que o carro estava à sua espera. Desceu, entrou no taxi e pediu que o motorista o levasse até ao outro portão de acesso, o da Toquinha, que fica há uns 500 metros do acesso principal. Desceu e pediu que o motorista o aguardasse. Meia hora depois retornou e ordenou que o táxi o levasse novamente ao ponto de partida inicial. Desceu e pediu novamente que o motorista o esperasse. Repetiu este ritual até as 22h, quando os encarregados da Toca pediram que ele decidisse realmente o que desejava. Sua resposta foi de imediato: “Tô pagando”. Só que uma ou duas horas depois, ele chamou o motorista e lhe avisou: “Amigo, volta amanhã e pegue o dinheiro da corrida com o nosso supervisor. Não tenho grana aqui”. Sabem quanto custou esta brincadeira: algo hoje o que seria superior a R$ 3 mil e na época ele recebia R$5 mil mensais.  Para o Cruzeiro foi o limite e pouco depois  Zé Roberto foi emprestado para o Benfica, de Portugal. No Brasil vestiu a camisa de vários clubes e hoje atua pelo Brasiliense. Em 2014 disputou oito jogos e marcou dois gols.






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